“Sou casada há 15 anos. Temos uma ótima relação de parceria, amizade, conversamos muito, temos planos para futuro, contudo eu não sinto mais vontade de fazer sexo com ele e ao mesmo tempo não quero traí-lo. Alguma dica?”
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Acho que foi Clarisse Lispector que disse: “Ah! Quantas formas de amar!” Esse é um tipo de amor que você vive. Um amor mais amigo que com o passar do tempo transformou-se em fraternidade. Quando isso ocorre o desejo sexual vai diminuindo. Os Gregos chamavam esse tipo de amor de Ágape diferente do amor Eros que tem o desejo da carne, da conquista, do sexo.
Em nossa cultura somos condicionados a viver um para o outro, transformando a união de dois seres diferentes em seres iguais – chamo isso de simbiose. Deixamos de perceber nossas vontades, deixamos de perceber as diferenças, fazemos de nossa parceria um espelho egocêntrico e narcisista, enfim deixamos de trocar com a diferença nos tornando um só. A relação fica com poucas brigas ou até mesmo nenhuma, ficamos especialistas em ceder nossos desejos ou em transformar em nossos os desejos do outro, achando assim que atingimos o paraíso conjugal. Podemos até atingir a paz... Mas, uma paz sem tesão sexual pois este é criado pela falta, pela diferença, pela conquista, pela fome de sentir o outro pelas vias da sensorialidade e não pela via da racionalidade ou amorosidade romântica.
Viver em harmonia é a busca de todo casal, mas precisamos da falta para se ter desejo. Precisamos de certo distanciamento para ver o outro e dessa forma despertamos o desejo de tê-lo, tocá-lo, senti-lo.
Sugiro a leitora que busque uma terapia de casal, para avaliar e pesquisar outras possíveis causas da transformação da relação.
Sugiro férias do casal. Organizem ficarem no mínimo 10 dias sem se verem e se possível sem se falarem. Se tiverem filhos, que se faça um revezamento. Organizem como serão as regras de fidelidade, comunicação, dinheiro, enfim combinados para não ter surpresas que ferem e magoam. Após os 10 dias de cada um deixem as crianças na casa de alguém e saiam para ficarem, pelo menos, 12 horas sozinhos conversando sobre a experiência, dificuldades, saudades, etc.
Sugiro ver filmes românticos e eróticos juntos, irem a motel, e criarem fantasias eróticas mesmo que não a realizem. Pensar no outro eroticamente, mandar mensagens, enfim estimular o cérebro com informações sexuais com o seu parceiro. Se quiserem viver as fantasias pensadas que seja de comum acordo.
Se de tudo não der certo e a falta de desejo perdurar, há que se fazer escolhas: viver como estão sob novas regras de fidelidade, viver no faz de conta que tudo está ótimo ou serem amigos suficientes para romper a relação e cada um torcer pela felicidade do outro mesmo que seja com outra pessoa. Não é simples nem fácil, mas possível e realmente amoroso.
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