Eros era o Deus do Amor e do Prazer na cultura clássica Grega. Dele vem o nome erotismo, mas é com lamento que o Amor virou só sexo. Então quando falamos em arte erótica estamos nos referindo às práticas sexuais, aos genitais e não ao amor que a antecede ou acompanha. Em minha ignorância técnica prefiro dizer que o Eros é o prazer e o amor de ouvir boa música, ler poesias ou textos, saborear uma boa comida e admirar uma tela. Tudo é Eros. Por exemplo, reuni com amigos para um sarau de poesia. Cada um levou a sua predileta, alguns como eu, declamaram; outros só ouviram e poucos ousaram romper sua timidez e nos brindou com a leitura de coisas belas. Até um poeta de verdade esteve presente - Bruno Mafra com seu livro - A Valsa Esquecida - e sua sensibilidade nos encantou. Para mim, tudo aquilo era Eros. Não havia genitalidade ou explicitudes sexuais, mas uma sensualidade e beleza com os versos, os risos e os olhares faiscantes de felicidade. Penso que naquele dia não se precisava de mais nada.
Mas existe poesia erótica no sentido sexual da palavra e não é de hoje. Por volta do sec. XIV em Túnis, o Xeique Nefzaui escreveu o Jardim das Delicias (Ed. Catedra Ltda. 1981 RJ). Foi escrito como tratado científico ensinando os leitores a arte de amar. Semelhante ao Livro religioso Kama Sutra. Reproduzo um trecho da poesia: "Como a um homem deitado sobre o próprio peito, ela - a vulva- enche a mão,/Que tem de estar bem aberta para cobri-la./ O lugar por ela ocupado projeta-se para fora/Como o botão fechado do florir de uma palmeira. /Indubitavelmente, a maciez de sua pele/É como o face imberbe da adolescência;/Seu canal é muito estreito,/A entrada nele não é fácil,/E aquele que tenta penetrar,/Tem a sensação de golpear contra uma cota de malhas....../Tendo o membro enchido sua cavidade,/Recebe a vivida acolhida de uma mordida,/....Sua boca é ardente,/Como fogo ao ser acendido./E quão doce é , este fogo!/Quão desidioso para mim."(pag.125).
Mesmo diante da chamada modernidade, da globalização e da internet a arte erótica é considerado pornografia (que tem o objetivo de excitação sexual) e desta forma pouco difundida a não ser em locais e situações bem específicas. Acredito que é falta de hábito de se pensar e falar sobre uma necessidade básica humana - o sexo. Deixando para o não dito, o escondido as dúvidas e os prazeres negados.
Nas artes plásticas não é diferente. Vemos telas com nudez feminina e pouquíssima da nudez masculina. Por ter o órgão sexual externo e por isso mais explícito, a nudez masculina quando retratada é considerada pornográfica sendo evitada pelos artistas. Na Renascença os nus masculinos eram exibidos com pênis infantilizados e dessa forma eram mais aceitos pelos consumidores da época. Várias considerações artísticas e sociológicas poderiam fazer a respeito disso, mas o espaço dessa crônica não é possível, por isso peço desculpas pela singeleza do texto.
Penso que conversarmos vermos e ouvirmos a temática sexual nos faz refletir e desmistificar a prática do amor e do sexo, e dessa forma ao naturalizarmos (como é!) podemos viver com mais soltura, prazer e responsabilidade. É uma força poderosa e como tal necessita ser conhecida, domada e canalizada para o bem e a saúde pessoal e coletiva.
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