"De onde se viu pensar em essência de alguém durante o carnaval? Eu quero mais é pegar e beber todas deixe para quando o carnaval passar!"
Posso afiançar que não estava de fogo, talvez estivesse um pouco mais sensível atento à subjetividade das coisas. Também sou assim. Sou criticado por ser direto demais e quando sou subjetivo... Coisas humanas.
O Carnaval passou, muitos beberam, transaram muito. Outros aproveitaram o feriado para retiros espirituais, outros estiveram com família e alguns continuaram a fazer o que fazem em todos os feriados de suas vidas. Cada um sabendo a dor e a delicia de ser o que é.
Contudo, embora o texto que falei da essência possa ter passado uma coisa chata, calminha e até monótona, devo dizer que não tem nada disso. Descobrir a si mesmo e ao outro é uma tarefa de herói. Poucos conseguem essa façanha e por isso as deixamos de lado e continuamos a buscar amigos em redes sociais, sem nunca os vermos. A buscar sexo por encomenda sem nunca sentirmos e a casarmos com pessoas que antevemos o fim em seu começo.
Na primeira semana após o carnaval, ficamos contando quanto pegamos, o que fizemos, as atrapalhadas, os foras, e compartilhamos aquele olhar de que eu fiz mais do que você ou nos entristecemos por não ter tido um carnaval como o outro teve, prometendo que no ano que vem será diferente. E voltamos à nossa rotina.
Continuamos fazendo as mesmas coisas, trabalhamos um pouco mais já contando com o próximo feriado para podermos ter a chance de fazer a mesmas coisas... E assim seguimos.
No meu consultório, começam a aparecer algumas consequências. O pânico por ter transado sem camisinha, a paixão por alguém de outro Estado, a tristeza por ter perdido a(o) namorada(o) por causa de um beijo ocasional, a perda eretiva com aquela musa carnavalesca e no final a clássica pergunta: e agora?
Pois é! Agora é catar os cacos como confetes de salão, e reconstruir a auto estima machucada pelo excesso da materialidade e a falta em respeitar a sua essência. Meu leitor que deixa para depois do carnaval a busca do verdadeiro prazer, provavelmente irá continuar buscando em camas vazias com pessoas vazias e assim, tendo orgasmos iguais, sem graça. E assim vivemos nós... Todos nós. Cecília Meirelles dizia que "no mundo dos que se reduzem a homens é um escândalo a passagem do herói."
No sexo o herói, não é o que morre, nem o que sofre, mas o que goza em plenitude. Para isso há que se ter alegria, risos, riscos, mergulhos e saltos indo além do cotidiano. Segurar a mão do outro como se fosse à primeira vez sentindo sua temperatura, sua aridez ou maciez, passar a mão nas unhas dela sentindo a delicadeza. Olhar nos olhos como uma criança olha seu primeiro iPod, tentando desvendar o que está por trás de tudo que vejo e sei que tem mais. Brincar com o corpo do outro na busca de sensações novas, mas sem a expectativa de encontrar, pelo simples prazer de fazer e de saber o quanto o outro está feliz com esse brincar.
Que a penetração não seja o fazer orgasmo ou o prêmio por essa conquista, mas a sensação maior de poder estar materialmente dentro do outro quando a alma já entrou. As fricções pênis vagina deixam de existir e o carinho interno torna-se o foco, com toda a referência e calma que se faz necessário quando entramos na intimidade e no sagrado de alguém que é o seu corpo. Tudo isso, meus leitores, com muita alegria, dança, música e até bebidas, como uma forma de celebração e não como forma de potencializar reações ou de nos dar coragem para a viagem.
O sexo não precisa de punições. O orgasmo não precisa de técnica. Nós precisamos é ter coragem de querer sentir e ver o outro como ele se apresenta. Bom trabalho de busca e até o próximo Carnaval.
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