“Tenho 40 anos fiquei viúvo a 2 anos e tenho uma filha para cuidar de 10 anos. Intitulo-me Bissexual mas durante o casamento me permaneci fiel. Agora quero viver o que não consegui mas não sei como proceder com minha filha. Gosto de homens bem mais jovens que eu, não sei se isso piora minha situação.”
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Na prática clínica tenho recebido um número cada vez maior de homens e mulheres com essa demanda emocional. Fica claro no meu parecer que as mudanças sociais, a flexibilidade das regras tradicionais, e a consciência dos reais direitos humanos de amar quem se quer tem aumentado essas escolhas e também estimulado a busca de ajuda psicológica para passar por essa fase.
Viver por anos com desejos reprimidos causa, via de regra, sérias consequências emocionais e físicas. Equilibra quando se vê a possibilidade de viver algo mais integral consigo mesmo e com quem se ama.
Nosso leitor nos traz a questão da filiação e a Homoafetividade. Geralmente, quanto mais cedo à verdade for dita e compreendida pela criança melhor será sua elaboração. As crianças não são cegas ou tão “bobinhas” quanto os pais pensam. São informadas pelas mídias sobre o tema e costumam entender bem quando é falado com amor, carinho e principalmente verdade. Após explicar para a criança é bom ouvir o que ela pensa e como elabora tudo isso. Apresentar o namorado com o título e não somente como amigo que dorme na cama com papai. Penso que no inicio, o adulto precisa ter certeza da parceria uma vez que trocas intensas de parceiros com apresentações à criança podem confundi-la nos valores passados pela família.
Penso que um problema será a família da mãe da criança. Saber que o genro, cunhado é gay e que há homens variados frequentando a casa pode causar desconforto, revoltas, medo de abusos sexuais, enfim, até processos jurídicos que só magoará a criança ainda mais. Importante ver como as famílias reagem, conversas francas apesar de difíceis devem ser colocadas para o bem estar do núcleo familiar.
A escolha de um parceiro terá que ter como critério a aceitação por parte do outro na presença física e emocional da criança nessa relação. Entender que a disponibilidade para festas e diversões terá algum limite e que se quer uma parceria deverá conquistar a confiança, e também querer ser um “pai” em amor nessa unidade familiar. Por isso acredito, e posso estar errado, que conhecer muito bem quem se coloca em casa para o convívio é extremamente importante. Perceber as reações e afeições bem como a capacidade de lidar com frustrações do futuro companheiro em relação à criança é crucial para a manutenção do relacionamento. Minha inquietação é por o leitor gostar de homens bem mais jovens que ele. Por ainda serem imaturos em função da pouca vivência ou idade, tendem a dificultar a construção dessa parceria. Impulsivos, voltados para baladas, e necessitando de uma atenção quase exclusiva, boa parte dos jovens sentem uma competição em relação aos filhos dos parceiros, ciúmes e invejas por terem que dividirem as atenções com os mesmos e, com certeza, perderem para a criança, pode gerar conflitos e términos por vezes agressivos. É claro, que isso não é regra, há jovens bem maduros e maduros completamente infantis, mas vale a reflexão.
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